Uma perspetiva artística da Acelera Angola

The aim of art is to represent not the outward appearance of things, but their inward significance.

Aristotle

A Acelera Angola (AA) é uma aceleradora e incubadora angolana, sediada em Luanda, que abriu as suas portas em 2017. 

No primeiro semestre deste ano, dia 20 de Maio, a AA inaugurou o seu novo espaço, o Hub, que se localiza no Patriota. O Hub alberga uma equipa diversificada, que tem como missão estimular o ecossistema empresarial através da inovação. O espaço foi também pensado para receber os participantes dos programas da AA, permitindo que estes trabalhem nos seus projetos, e ainda para realizar eventos de empreendedorismo e proporcionar momentos de convívio e networking com a comunidade. 

Life is art. Art is life. Never separate it.

Ai Weiwei

Arte, a simples palavra de quatro letras, tem uma definição ampla. Da fotografia à música, da dança à pintura, tudo é uma forma de arte. Criar algo sem palavras, algo que fale com as pessoas. A arte é uma linguagem própria. Vemos arte todos os dias, mas como a vemos é diferente e o lado artístico do Hub da AA, foi inspirado por dois membros da equipa, o José Carlos, CEO e Managing Partner da aceleradora, e a Lauretta Geraldo, Ecosystem and Partnership Manager, e depois pintado pelos dois artistas, Londres e Serafim.

Numa curta conversa, estes protagonistas partilharam as suas motivações para criar um espaço, onde em cada recanto se encontra uma arte visual, que não é indiferente aos olhos dos novos membros ou visitantes do espaço.

Interviewer: Qual é a ligação que vocês têm com as artes?

José Carlos: Estreei o contacto com as artes, de distintos tipos desde muito cedo. Tive algum contacto com artistas há mais de 20 anos atrás e ganhei a sapidez, não só como apreciador de arte, como consumidor de museus, galerias, e outros conteúdos. Esta ligação permitiu-me contactar e falar com curadores, artistas e também aspirantes a artistas, e quando digo isso, não está limitado a artes plásticas. Afirmaria que de forma geral nunca fui um colecionador que detenha as obras catalogadas e marcadas, fazia como hobby e também como investimento.

As coisas tornaram-se mais consolidadas, quando o grupo de fundadores do Acelera Angola resolveu, em parceria com o António Gonga (Prémio Nacional de Cultura e Arte de 2016), dar corpo à Escola de Artes e Ideias “Sol de Cacimbo”, onde apoiamos crianças dos 6 aos 14 a terem o primeiro contacto, trata-se de um bairro pouco privilegiado, mas investimos no terreno e instalações que se mantém até a data.

Como desafio, similarmente compus de forma descomprometida uma coleção com um Amigo Gilberto, que é curador de uma grande coleção para uma instituição pública.

Por outro lado, tenho na família, um contacto muito direto com arte em casa.  A ideia agora é transformar o Hub da Acelera numa obra de arte.

Lauretta Geraldo: Eu venho de uma família de artistas, por isso sempre estive cercada de arte. Estudei numa escola superior de arte – Full Sail University – onde tive a oportunidade de fazer algumas exposições próprias. 

AA: Quais são as vossas maiores influências?

JC: Aventuro-me a dizer que vejo o belo na criatividade e nas pessoas a concretizarem os sonhos e conseguirem demonstrar isso. Reconheço que fazer negócios é uma forma de arte, só que muitas vezes não é observável, a própria arquitetura dos processos para um negócio ser bem-sucedido ou não, o brand forte que podemos conceber tem muito de arte implícita, no entanto não separo as duas coisas. Escuto ou reparo imensas vezes, quando estou em contacto com arte ou sou mais criativo no mundo dos negócios, que as pessoas identificam isso em mim, por outro lado, quando estou mais para o mundo da arte, oiço imensas ocasiões que tenho alma de artista.

LG: À nível contemporâneo, gosto bastante dos artistas Angolanos. O Yonamine, Binelde, Warawata, Verkron, Keyezua, entre muitos outros, também porque tive contato direto com o trabalho deles. A nível internacional, diria Kennedy Yanko, Marina Abramović, James Turrell, David Hockney, Koons, Kaws entre outros, Yinka Shonibare. Artistas clássicos, o Klimt, Jan van Eyck, Sandro Bottecilli.

AA: No vosso ponto de vista, porque é que a arte é importante para a sociedade.

JC: Primeiro porque quem não sabe apreciar o belo, não preserva nem consegue amar profundamente a criação. Acho que o ser humano tem de diferente dos outros animais é justamente esse lado sentimental e de intelecto que permite que a imaginação recrie necessidades e coisas que depois se tornam exequíveis. Podemos olhar para Da Vinci, que associou a filosofia, engenharia, matemática, escultura e arte. Essas dimensões são críticas, hoje diria que uma compreensão profunda da arte em si é essencial para a humanização e, o entendimento do meio à nossa volta. – E, também focar muito no elementar do começo: cores, manual, natureza, antropologia e anatomia. No Mural da Acelera, instalamos a seguinte frase: “The World is a Museum of passion projects”.

LG: Acredito que há duas coisas essenciais na vida que unem as pessoas. Em primeiro lugar a Comida, o alimento tem o poder de congregar e pacificar e a Arte.

AA: José Carlos, a arte tem influência nas outras áreas da sua vida? Quais?

JC: Acho que não convivo sem arte, estou sempre rodeado de arte em todos os aspectos, seja num porta-chaves, a falar com artistas diariamente, como ter arte exposta na sala de casa, quarto, carro, e já fiz uma primeira obra, que dei o nome de “Tentativa Falhada Nº1”. Acredito que a única forma de deixar um legado é através da criatividade, ideias e do nosso ser artístico.

AA: Porque é que decidiu colocar as artes no Hub da Acelera Angola? Qual é o propósito?

JC: Embora ambicioso, num primeiro momento, a ideia de um dos sócios era transformar o Hub numa obra de arte, para posteriormente vender como NFT. Foi evoluindo, e pensamos em desenvolver um novo desafio, que embora seja muito ambicioso, estamos a colaborar para implementar uma residência artística que tenha um cruzamento com o que fazemos a nível de inovação. Por outro lado, sempre foi particularidade carretear o EU artístico para dentro dos espaços, e aproveitámos muitos dos murais e quadros que tínhamos destacado no escritório/Hub anterior. Também é uma forma de deslocar, porque pelo menos para algumas obras pessoais já não tenho espaço em casa, LOL. [risos…]

AA: Quais foram as suas sugestões nas artes que estão no Hub?

JC: Não vou fazer nenhuma afirmação, porque quem esteve atrás do projeto foi a equipa, liderada pela Lauretta Geraldo. No entanto, acho que chegou a um ponto em que queriam que eu estivesse fora do processo. O principal mural, eu sentei-me numa cadeira e acompanhei todo trabalho que foi feito do início ao fim, para examinarem o grau de entusiasmo por arte!

AA: Ficou satisfeito com o resultado final?

JC: Como comentam, tenho alma de artista, nunca fico contente com nenhum resultado, quero sempre corrigir, aumentar, transformar mais alguma coisa. Se perguntar se o resultado final já chegou ao fim do processo, digo logo que não, porque tanto a residência como o projeto de arte deve prosseguir para fora do Acelera. 

Art is never finished, only abandoned.

Leonardo Da Vinci

AA: Lauretta, o que é que lhe motiva a criar?

LG: Os meus objetivos de vida. Porque quero aparecer como a melhor versão de mim mesma e lembro-me constantemente do legado imediato que se deixa para trás.

AA: Quais foram as tendências de artes que lhe inspiraram para as pinturas do Hub?
LG: Fui muito influenciada pelo graffiti. Acho que dois lugares me vieram à mente, a Cidade do Cabo e Lisboa. Todos os espaços públicos interativos adotaram o graffiti como uma forma de expressão, conectividade e um condutor por trás da energia que um espaço carrega.

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