1. PÉS NOS CHÃO, MÃOS NA CABEÇA: AINDA CORREMOS O RISCO DE FICAR PARA TRÁS.
Há séculos que a indústria tem vivido grandes revoluções, o motor a vapor, a electricidade e a era digital são algumas delas e em todas Angola e o resto de África nunca ocupou uma posição de destaque.
A transformação digital em Angola tem sido um processo lento. O país tem testemunhado um aumento na adopção de tecnologias digitais, incluindo a conectividade móvel e acessível, o que tem proporcionado um grande impulso ao sector industrial.
Pela influência de alguns países estrangeiros que estão mais desenvolvidos como o Japão e a Alemanha, a industrialização em Angola tem sido impulsionada através de acordos comerciais e tecnológicos.
Recentemente temos visto uma nova revolução, a indústria 4.0, ou seja, a Inteligência Artificial.
Já não se trata de uma promessa ou uma tecnologia do futuro, a inteligência artificial já é uma realidade, uma tecnologia que consiste na reprodução de tarefas humanas através de uma máquina. Dentro deste contexto são inúmeras as possibilidades que se abrem que vão desde o aumento da produtividade no trabalho, redução de esforço físico e optimização de processos, isto em vários sectores tais como: saúde, educação, economia, indústria automóvel e muito mais.
Diante disso, surge uma pergunta: será que Angola conseguirá acompanhar essa nova revolução?
2. IDEIAS BRILHANTES, ECOSSISTEMA DESPREPARADO.
Verdade seja dita, nos últimos tempos muitos jovens empreendedores angolanos têm vindo a se esforçar para acompanhar essa onda, criando idéias brilhantes, desde simples chatbots até o diagnóstico de doenças por meio de processamento de imagem, mas se temos idéias brilhantes, por quê elas não têm impacto? A resposta é simples, o nosso ecossistema não é favorável para o desenvolvimento da IA.
2.1. Ideias brilhantes usando IA em Angola.
OsapiCare: uma startup que visa compensar a falta de técnicos laboratoriais e reduzir o erro no diagnóstico por meio de um software capaz de fazer a interpretação de imagens microscópicas de amostras de sangue.
AgroIA – uma startup que visa acabar com pragas nas plantações por meio de um modelo de IA capaz de detectar doenças em plantas por meio de um algoritmo de interpretação de imagens.
Agiliza IO – uma startup que tem como objetivo acabar com burlas através da validação de comprovativos bancários, graças a um algoritmo capaz de fazer interpretação de imagens.
2.2. Ecossistema despreparado para a IA em Angola.
Apesar das ideias brilhantes das startups, nem todas são bem sucedidas ou o processo de consolidação acaba sendo mais longo porque o ecossistema de empreendedorismo em Angola está despreparado para lidar com a Inteligência Artificial (IA).
De forma abrangente é importante descrever algumas barreiras como: falta de inclusão digital, pouco acesso a dados, falta de programas de educação voltados a IA, poder computacional caro demais e a falta de regulamentação para o uso da IA.
UMA NOVA JANELA SE ABRE: O MOMENTO É ESSE.
Felizmente, isso não é o fim. O PwC estima que a implantação da IA adicionará 15,7 trilhões de doláres ao PIB global até 2030 e apesar de grande parte desse valor se concentrar na China, nos EUA e na Europa, cerca de 1.2 trilhões de doláres estarão concentrados em outras regiões do mundo e uma dessas regiões ainda pode ser Angola. Nos últimos anos, o mundo saiu da Era da Descoberta para a Era da Implementação e da Era da Especialidade para a Era dos Dados, significa que num mundo dominado pela IA não é necessário descobrir novos campos de estudo da IA ou possuir um grande grupo de cientistas de IA mais brilhantes do mundo, o mais importante é que as startups implementem de diferentes maneiras o que já existe e possuam dados em abundância. Se estas forem as regras, Angola tem uma oportunidade desafiante pela frente.
A inteligência artificial (IA) tem o potencial de transformar sectores e economias inteiras, independentemente do nível de desenvolvimento de um país. Vejamos alguns dos impactos sociais e económicos da IA:
Crescimento do PIB: A IA pode impulsionar o crescimento económico ao aumentar a produtividade. Por exemplo, ao automatizar tarefas que anteriormente exigiam mão de obra intensiva ou ajudando na análise e interpretação de grandes conjuntos de dados, a IA pode levar a melhores decisões de negócios e operações mais eficientes.
Poder de Compra: Com a introdução da IA em várias indústrias, os custos operacionais podem diminuir ao longo do tempo. Isso, por sua vez, pode levar a produtos e serviços mais acessíveis, aumentando o poder de compra da população em geral.
Investimento Estrangeiro: Empresas e investidores internacionais podem ver oportunidades em países que estão a adoptar tecnologias de IA, o que pode levar a um aumento no investimento estrangeiro directo.
2.3 Impacto da IA no mercado angolano
Agricultura: A IA pode ajudar a aumentar a produtividade agrícola, melhorar a previsão do tempo e monitorar as condições do solo. Também pode ser usada para prever pragas ou doenças e melhorar a eficiência da irrigação. Isso pode ajudar Angola a diversificar a sua economia e reduzir a sua dependência de importações.
Turismo: A IA pode ajudar a melhorar a experiência do turista com programas de recomendação personalizados e análises de feedback.
Saúde: Em regiões com falta de médicos e especialistas, sistemas baseados em IA podem ajudar no diagnóstico, monitoramento de doenças e distribuição de recursos médicos.
Educação: Plataformas de ensino assistido por IA podem ajudar a personalizar a aprendizagem para estudantes em áreas rurais ou urbanas, onde recursos educacionais tradicionais podem ser limitados.
4. MÃOS À OBRA.
É necessário perceber que há muitos anos, a promessa da massificação da electricidade exigia 4 pilares: combustíveis fósseis para gerá-la, empreendedores para construir novos negócios em torno dela, engenheiros elétricos para manipulá-la e o apoio de um governo para desenvolver a infraestrutura pública necessária. E se Angola quiser estar à altura do desafio da IA, devemos estar cientes que análoga à electricidade, a IA também tem pilares fundamentais: dados abundantes (combustível da IA), empreendedores famintos, cientistas de IA e um ambiente político favorável a investimento na área. Assim sendo, seguem abaixo algumas acções que podem ser tomadas para que um país com pouca inclusão digital consiga construir esses pilares:
Infraestrutura básica de internet:
Expansão da conectividade: Investir na infraestrutura de telecomunicações para garantir uma ampla cobertura de internet, especialmente em áreas rurais e remotas.
Acessibilidade: Tornar a conexão à internet acessível em termos de custo, para que um maior número de cidadãos possa se conectar.
Educação digital e capacitação:
Programas de alfabetização digital: Implementar programas em escolas e comunidades para ensinar habilidades digitais básicas.
Formação em IA e dados: Estabelecer parcerias com universidades e institutos de pesquisa para oferecer cursos e treinamentos especializados em ciência de dados e IA.
Promoção da adopção digital:
Digitalização do governo: Implementar serviços governamentais digitais, como registo civil, saúde e educação, para colectar e gerar dados de forma estruturada.
Incentivos para negócios digitais e apoio à inovação: Fornecer incentivos fiscais ou financeiros para startups e empresas que operam digitalmente e que geram dados. Bem como estabelecer fundos ou programas de subsídios para apoiar startups e projectos inovadores na área de tecnologia e IA.
Open data e partilha de dados:
Portais de dados abertos: Criar portais governamentais de dados abertos para disponibilizar conjuntos de dados para pesquisa e desenvolvimento.
Parcerias público-privadas: Colaborar com o sector privado para cpartilhar e utilizar dados de maneira ética e segura.
Regulamentação e Ética:
Leis de proteção de dados: Estabelecer regulamentações claras sobre privacidade e protecção de dados para garantir a confiança do público e proteger os direitos dos cidadãos.
Comités de ética em IA: Criar comités ou conselhos para discutir e orientar questões éticas relacionadas à colecta e uso de dados e à implementação de IA.
Investimento:
Atração de investimentos externos: Criar um ambiente favorável para atrair investimentos externos em tecnologia e digitalização.
Embora não tenhamos esgotado todas as alternativas teóricas e práticas em torno da IA, é perfeitamente possível afirmar que a sua utilização traria uma melhoria significativa nos serviços e condições de vida dos angolanos. Assim sendo, incentivamos fortemente a adesão das startups a esta maneira inovadora e tecnológica de resolver problemas.